Episódio - 1 Um novo ano de escola Kut

             

Era o seu primeiro dia no secundário e já só pensava no stress de ir às aulas, a ansiedade da nova vida, nova escola, novos colegas, novos professores. Kut, um miúdo de olhos azuis, cabelo preto um pouco em crista, voltava a encontrar-se num ano novo com alguns dos seus amigos. Antes de sair de casa olhara-se ao espelho com uma empiscadela sorridente. Na sua aldeia, a ‘Vila das Pétalas’, mora sozinho num pequeno T1 por, ainda muito novo, ter ficado órfão de pai e mãe.

Ao sair do prédio já a precisar de pintura, encontra-se com a sua amiga Márcia. Logo começam a falar um com o outro enquanto caminham em direcção à Academia.

- Bom dia Márcia, que linda que estás hoje. Quer dizer estás todos os dias mas pronto…. – Corrige, atrapalhado.

Márcia sorri e responde:

- Obrigada, já estamos quase a chegar.

À porta da Academia já se encontra muita gente. Márcia afasta-se de Kut para ir ter com as suas amigas. Ele faz o mesmo e vai ter com os seus amigos de longa data, o Bruno e Tiago. Tiago, sempre bem-disposto e brincalhão, diz:

- Olá Kut, chegas bem acompanhado!

(Kut em resposta) - Pois vinha….

Nisto, toca a campainha para as aulas, a nossa primeira aula. O director apresenta a cada turma o seu respectivo professor, enquanto os alunos vão entrando curiosos. Curiosos e surpreendidos por já no primeiro dia terem dois testes para comparar os resultados com os do ano anterior transmitidos por ficha. No final da aula todos foram jogar futebol à excepção de Kut e Tiago que ficaram juntos para ali a falar das férias e da vida de cada um.

- Sabes, ultimamente tenho andado um bocado sozinho, não digo só, mas um bocado à parte. Às vezes até penso, quem me dera não ser quem sou…

- É um pouco normal – deixa escapar Kut, tentando animá-lo.

Tiago interroga-o logo com cara feia:

- Normal?! Achas isso normal?

O amigo procura explicar-lhe:

- Sim, por vezes não dás conta mas estás sempre a gozar com os outros da nossa turma.

- Oh! Eu só digo as verdades e nem sempre estou a gozar; mas por vezes é na brincadeira…

- Pois eu e o Bruno sabemos, por isso é que não ligamos muito. Está na hora de ir para casa. Hoje até não foi muito cansativo devido a ser o primeiro dia. Não achas, Tiago?

- Acho. Tens razão, amanhã é que já vai ser a sério. Olha, aí vem o Bruno, quase que aposto que vai dizer que marcou 10 golos na tua ausência.

Já a interromper o comentário de Tiago mas sem lhe prestar muita atenção Bruno diz:

- Olá pessoal. Marquei 9 golos, Kut.

Tiago a rir-se dele diz:

- Até parece que sou bruxo.

Kut e Tiago riem-se às gargalhadas e dizem em coro: vamos, está na hora de ir para casa. Kut sai da Academia a correr pois ainda quer parar em alguma roulotte para jantar. Pelo caminho encontra o velho JAM, o homem mais antigo da vila, sábio nos seus conselhos e previsões, que o chama e diz:

- Queres ouvir uma coisa? Um pensamentozinho para o teu dia?

Kut responde com vergonha mas cheio de fome:

- Aceito se me oferecer o jantar.

- JAM passa a sua mão direita pela testa. Escuta, “lembra te de que colhemos, infalivelmente, aquilo que tivermos semeado. Se estamos a sofrer, é porque estamos a colher os frutos amargos das sementeiras, dos erros do passado. Fica alerta quanto ao momento presente! E planta apenas sementes de optimismo, de perdão e de amor, para colheres amanhã os frutos doces da alegria e da felicidade. Lembra-te disto, cada um colhe exactamente, aquilo que plantou. Uma macieira dá maçãs, uma videira dá uvas”.

Kut ficou admirado por ver que o velho sabia aquilo tudo na ponta da língua, mas também por se lembrar que Tiago estava a colher o que tinha semeado e disse:

- Obrigado pelo comer, estava delicioso. A partir de hoje passarei em sua casa, não para comer, mas para ouvir um dos seus conselhos ou pensamentos, fruta da sua longa vida. Obrigado velho JAM.

O velho sorriu e disse, sentindo o elogio:

- Ainda bem que gostaste e fica combinado. Sempre que queiras entra. É meu dever passar a minha experiência aos mais novos.

(continua)

JAM